No Brasil, 94% das pessoas não se sentem preparadas para a aposentadoria

SÃO PAULO - Os brasileiros estão entre as pessoas que mais se sentem despreparadas financeiramente para a aposentadoria. Segundo o estudo O Futuro da Aposentadoria, feito pela HSBC Seguros, 94% das pessoas do País não se sentem preparadas. O número só não é maior que o registrado na Coreia do Sul e no Japão, de 98% e 97%, respectivamente.
 
O índice brasileiro também está acima da média global, de 87%. Também estão acima da média locais como México (92%), China (91%), Cingapura (91%), Hong Kong (89%) e Turquia (89%).
No levantamento, a Índia se destaca como o país que se sente mais preparado financeiramente, com apenas 58% das pessoas admitindo a falta de um melhor preparo. Em seguida aparece o Reino Unido, onde 75% das pessoas não se sentem preparadas.
 
Sem conhecimentos
Entre a população mundial, além dos 13% que se dizem muito bem preparados, 43% afirmam que já fizeram algum planejamento, mas não sabem qual será a renda da aposentadoria.
Já 29% afirmam que não fizeram planejamentos e também não sabem qual será a renda que terão, enquanto outros 14% se dizem totalmente despreparados, sem terem feito nenhum planejamento.
 
Homens e mulheres
Considerando os resultados globais, 15% dos homens se sentem mais preparados enquanto entre as mulheres esse índice é de 11%. Já entre aqueles que têm um planejamento, mas não sabem qual será a renda, os índices são de 44% para eles e 42% para elas.
Por sua vez, entre os despreparados, são as mulheres que apresentam os maiores índices: 30% delas não fizeram muitos planejamentos e desconhecem a renda que terão ao aposentar-se, e outras 16% não planejaram nada. Entre os homens, esses índices são de 28% e 12%, respectivamente.

Vocações

Texto: Vocações 
 Por Luís Fernando Veríssimo
* Publicado no Jornal do Brasil.

Com o fim do ano escolar e a aproximação dos vestibulares, o pensamento dos jovens se vira para assuntos sérios como o futuro enquanto seu corpo tenta convencê-lo a só relaxar e aproveitar as férias. É a velha luta entre neurônios e hormônios chamada adolescência, tornada mais grave pelo calor e a obrigação de decidir o que se vai ser na vida. É quando os jovens precisam pensar na sua vocação.
 
A vocação envolve questões como genética x cultura, hereditariedade x influência do meio – enfim, esse antigo torneio de teorias que nunca se decide. Por que certas pessoas "dão" para certas coisas e outras não? Mais especificamente, por que eu sou um zero em matemática enquanto tantos à minha volta não só sabem fazer contas como gostam? Meu cérebro já nasceu decidido a rechaçar qualquer tentativa de introduzirem nele a raiz quadrada ou isso foi uma decisão minha que ele acatou? O fato é que há pessoas que querem ser dentistas desde pequenas e outras que não apenas não concebem como alguém possa ter uma vocação assim como têm que se controlar para não morder seu dedo, revoltadas.
 
Há anos que se discute a divisão entre a cultura científica e a cultura humanística e é quase como se falassem de duas raças humanas diferentes. Os que defendem que a divisão não é genética sustentam que não dá para saber, pelo comportamento da criança até os seus 5 anos, se ela vai ser de uma cultura ou de outra. Se o garoto gosta de abrir a barriga do ursinho tanto pode significar que ele vai ser um cirurgião ou um médica legista quanto que vai ser filósofo e estripador nas horas vagas. O meio é que determina a vocação e o destino. Condicionado pelo meio, o filho de um médica teria naturalmente mais chances de ser um médico também enquanto o filho de um filósofo estripador teria muito mais chances de acabar na cadeia, ou escrever um livro de memórias sensacional. Já outros sustentam que a genética é tudo e que no espermatozóide que fecunda o óvulo já está o contador ou o poeta, o advogado ou o engenheiro, o ator ou (por alguma razão) o dentista. E há os que garantem que o espermatozóide não decide nada, pode chegar no óvulo com os planos que quiser, cheio de ânimo e moral – afinal, derrotou milhões de outros espermatozóides na corrida para ser o primeiro, é natural que se sinta um vencedor e capaz de tudo – pois quem decide mesmo é o óvulo.
– Presidente da República coisa nenhuma. Contrabaixista e numismata.
– Mas, mas... – tenta protestar o espermatozóide.
– Quieto. Lembre-se de que você é o intruso aqui. Eu estou em casa. E na minha casa mando eu!
 
Seja por influência do meio ou por compulsão genética, o fato é que a partir de uma certa idade nós todos sabemos se queremos abrir barrigas ou não. É verdade que muitas vezes a pessoa chega ao vestibular sem uma idéia muito clara do que vai ser:
– Estou entre Letras, Educação Física e Oceanografia...
 
Mas o comum é a pessoa saber pelo menos se é da raça científica ou da humanística e depois escolher entre as opções de cada uma. O que não impede os mal-entendidos. Lembro como eu gostava daqueles problemas matemáticos com historinha, tipo "Se um trem sai de uma estação a tal hora viajando a tantos quilômetros por hora e outro sai de outra estação a tantos quilômetros de distância na mesma hora e na mesma velocidade mas o maquinista precisa passar em casa e perde cinco minutos..." ou "Se uma mãe tem três pedaços de laranja para repartir entre cinco filhos..." Cheguei a pensar que meu cérebro gostava de contas e minha vocação era para ciências exatas, até me dar conta de que eu não gostava de matemática. Gostava era das historinhas.