A hora da escolha

A hora da escolha
Dinheiro, sucesso e satisfação pessoal são conseqüências para quem ama o que faz
Há um momento crucial na vida de todos aqueles que seguirão os estudos após concluir o segundo grau: que profissão escolher? Quem não tem a sorte de decidir, desde cedo, que vai ser médico, engenheiro ou advogado, quando crescer vai enfrentar longos meses ou até anos de angústia antes de tomar uma decisão que afetará o resto de sua vida. Seguir os rumos do pai, da mãe e escolher a mesma profissão ou ouvir a voz da intuição quando esta aponta para alguma aptidão? E quando essa “voz” não diz nada e aproxima-se o dia de inscrição para o vestibular? Conselho de quem chegou lá e é hoje exemplo de profissional bem-sucedido: na dúvida, opte sempre pela profissão que lhe atrai. Dinheiro, sucesso e satisfação pessoal são conseqüências para quem faz o que gosta e ama o que faz. A capacidade de ouvir e contar histórias foi o que definiu a escolha profissional de Mariana Godoy, jornalista e apresentadora do SPTV, da Rede Globo. Há 17 anos na profissão, Mariana tem uma receita para quem quer seguir essa carreira: “Jornalismo, além de profissão, é uma opção de vida. É uma profissão que exige demais e a opção deve ser feita pela paixão de ouvir e saber contar histórias e não pela vaidade.” Desde cedo, ela sabia que seu futuro profissional estava ligado à área de Humanas: “Mas a paixão pelo jornalismo nasceu do fato de eu ser muito xereta, muito curiosa, perguntar sempre muito sobre tudo e principalmente pelo meu fascínio em ouvir histórias. A pergunta que eu me fazia era se conseguiria contar essas histórias de forma fiel, sem colocar minhas opiniões e sem distorção. Porque se a preocupação ética deve estar presente em toda profissão, na nossa, então, é fundamental”, comenta a jornalista. Filha de advogado e professora, Mariana diz que não sofreu qualquer influência paterna na escolha da profissão. “A influência, na verdade, existiu, mas veio de fora. Eu era muito, muito fã da Paula Saldanha [jornalista que na década de 70 apresentava o primeiro noticiário para crianças e adolescentes da TV brasileira, o Globinho]. Foi por causa da Paula Saldanha que me interessei por jornalismo”, conta Mariana Godoy. Em relação aos conselhos dos pais, Mariana faz questão de destacar que sempre foi incentivada a procurar a profissão que lhe desse prazer e realização. “Os valores que eles me passaram foi o de estar bem e realizada com o meu trabalho e não ter um diploma que pudesse irrigar minha conta bancária.”Para Mariana Godoy, mais importante do que ter vários diplomas e certificados de cursos pendurados na parede é ter uma sólida formação cultural. “Sempre viajei muito. Fui várias vezes para a Europa com uma mochila nas costas, com pouco dinheiro, mas com muita disposição para aprender, visitar museus e conhecer outras culturas. A formação, a bagagem cultural é fundamental para um jornalista.” Uma exigência fundamental nesse meio é o aprendizado de idiomas. Ela própria fala inglês, francês, espanhol e italiano. “Saber outras línguas faz parte dessa preocupação com a formação e com a bagagem cultural. Além de preparar para entrevistar grandes personagens, dá acesso ao que é produzido em todo o mundo.” O jornalista e âncora do programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, Paulo Markun, é um exemplo de profissional bem- sucedido que só descobriu o que queria fazer depois de percorrer um longo caminho de dúvidas, incertezas e conclusões equivocadas. “Aos 15 anos fiz um teste vocacional e, depois de uma longa bateria de entrevistas, a orientadora disse que eu poderia seguir diversas profissões na área de Humanas. História, principalmente. Ela disse que estava surgindo um curso novo, com várias alternativas que poderiam ser interessantes. Era a Escola de Comunicações e Artes [ECA], da USP”, lembra Markun. O jornalista conta que não levou o conselho muito a sério na hora de se inscrever para o vestibular. “Tanto que resolvi fazer o curso de Arquitetura, porque cresci na casa de um famoso arquiteto, o Villanova Artigas, e achei que essa seria minha vocação.” Markun fez cursinho e, depois de um desempenho pouco satisfatório num provão, percebeu que não tinha a menor aptidão nas matérias que seriam chave para Arquitetura. Deu uma guinada e resolveu seguir o que o teste vocacional sugeria. “Fui aprovado no vestibular para a ECA e no primeiro ano de curso comecei a trabalhar no Diário do Comércio e Indústria, em seguida fui para O Estado de S.Paulo”, lembra o jornalista. Contar todo o esforço que esse jornalista colocou na construção de sua carreira consumiria uma boa quantidade de papel. Mas para ilustrar é bom lembrar que ele foi um dos principais repórteres da TV Globo na década de 80 e 90. A dica de Markun para quem vai escolher a profissão: “A indecisão é natural, mas pode se tornar uma muleta e uma justificativa para quem pretende continuar na vida a passeio. Minha família teve a grandeza de me deixar escolher o que queria fazer.” Muitas vezes a influência da família não ocorre por pressão direta dos pais. “Por ter pais médicos, até os 15 anos eu seria médica. Mas num certo momento percebi que daria uma má médica, então fiquei um pouco insegura. Como sempre gostei muito da área internacional, fiz Relações Internacionais e, como complemento, estudei História. O que pesou no meu caso foi a aptidão”, resume Denise Hamu, diretora-geral no Brasil do World Wildlife Foundation (WWF), uma das mais importantes entidades de preservação ambiental do mundo. Denise apostou muito na carreira profissional. É formada pela Universidade de Brasília, fez mestrado pela George Washington University, de Washington, nos Estados Unidos, fala inglês, francês e espanhol e tem um diploma em Administração de Projetos pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro. Apesar de tanto empenho e do alto investimento que fez, a diretora do WWF-Brasil ressalva que só se é bom profissional quando se acredita no que faz. “No momento de escolher uma profissão, o que deve preponderar é a aptidão e correr atrás do sonho. Acho que a pessoa não pode escolher algo só porque está na moda. O mundo hoje comporta muitos tipos de profissional e é preciso ter bagagem. Sei que a realidade é difícil às vezes, mas não se pode ficar preso só à perspectiva de um bom salário. Isso vem.”Para Denise Hamu, a receita para uma carreira profissional bem-sucedida inclui paixão e transparência nos atos, além de uma formação sólida – “não só na escola; a bagagem tem de ser colhida ao longo do caminho”, diz ela, acrescentando que “ninguém se torna bom profissional de um dia para o outro. Depois que você se forma, não termina sua educação. É preciso buscar sempre outros conhecimentos e se manter atualizada”. À frente de uma instituição do porte e da responsabilidade do WWF, Denise diz que a área ambiental abriga multidisciplinas. A profissional pode ser advogada, bióloga ou ter especialização em política pública. Há espaço para muitos tipos de pessoas e de profissões. “A convivência com diferentes profissionais resulta em relacionamento de troca, especialmente numa equipe multidisciplinar. No WWF-Brasil estamos construindo uma equipe assim, em que as diferentes áreas se complementam.”
Influência do paiO atual vice-presidente e diretor de telecomunicações do grupo Siemens, Aluízio Byrro, iniciou sua trajetória num dos maiores conglomerados mundiais do setor de bens de consumo como estagiário de engenharia. A opção pelo curso, diz ele, teve influência direta do pai. “Desde a época do curso científico tive interesse em estudar Engenharia e já na universidade optei por telecomunicações”, conta Byrro. Depois de formado, em 1972, foi para Munique atuar na área de transmissão em telecomunicações e desde então passou por diversas áreas e funções no Brasil e na Alemanha, onde fica a sede mundial da Siemens. Embora reconheça a influência paterna em sua escolha profissional, Byrro ressalta que o mais importante na hora de optar pela carreira é avaliar a vocação. “Para mim, o sucesso profissional está diretamente associado com a seguinte premissa: é importante fazer aquilo de que se gosta porque é muito difícil fazer bem- feito aquilo de que não se gosta.” Segundo o executivo, se a pessoa realmente tem interesse e talento para atuar em determinada área, deve focar os esforços nessa direção. Para quem está em dúvida, o vice-presidente da Siemens recomenda buscar apoio em testes vocacionais. Outro recurso importante no momento da decisão é procurar a orientação das pessoas do círculo familiar e de amigos. Byrro sugere ainda que o jovem visite as empresas nas quais tem interesse em trabalhar e converse com profissionais da área para formar uma idéia real do mercado. Receita de sucesso Byrro não tem. Mas considera que uma carreira bem-sucedida é baseada em um conjunto de aptidões e predicados que a pessoa precisa ter. “Isso porque a competição é extremamente dura nos dias de hoje, seja lá qual for a área de atuação. “Na minha opinião, para ser bem-sucedido na vida profissional, antes de tudo é preciso ter as competências inerentes à profissão escolhida. Ser competente, se atualizar constantemente, ter tido uma boa formação de forma geral são condições básicas para um bom desempenho profissional”, assegura. Outros requisitos indicados pelo vice-presidente da Siemens é ter espírito empreendedor e disposição para o trabalho, em qualquer situação. Além disso, diz ele, são necessárias outras aptidões como gostar e ter entusiasmo pelo que faz. Espírito de liderança é também uma competência absolutamente imprescindível. “Eu costumo dizer, e isso pode causar surpresa, que as pessoas que querem ter sucesso na carreira precisam ter dois sentimentos importantes: ambição e vaidade. O segredo é dominar esses sentimentos e não deixar que eles dominem você.”

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