“ Puxou o Pai “
Diretoria Geral de Recursos Humanos - DGRH
Órgão da Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário - UNICAMP
http://www.dgrh.unicamp.br/noticia.shtml?idNoticia=741
"Puxou o pai". Quem já não ouviu essa frase e outras tantas muito parecidas, como "Tem o gênio da mãe" ou "É agitado como o pai quando era criança"? Esse tipo de observação sobre os comportamentos infantis dá a impressão de que eles são traços genéticos, assim como as características físicas. Uma frase como "tem o gênio da mãe" se parece com aqueles comentários sobre os recém-nascidos: tem os olhos da avó, o queixo da mãe, o olhar do tio...
Uma análise mais detalhada, porém, vai mostrar que, em geral, as semelhanças de comportamento entre pais e filhos são muito mais fruto da convivência do que da genética. A influência dos pais e pessoas que cercam a criança ocorre de forma natural e, geralmente, inconsciente. Os adultos são modelos de comportamento, e a forma como agem diante de situações prazerosas ou dificuldades é um referencial fundamental para a formação das crianças.
Quantas vezes não nos surpreendemos ao nos enxergarmos no comportamento dos filhos? A situação deixa de ser natural e passa a ser problemática quando os pais tentam fazer dos filhos uma continuação, ou uma reviravolta, da própria vida. Nesses casos, os adultos deixam de ser modelos para se tornarem uma espécie de ditadores do destino de suas crianças e adolescentes. Com as justificativas mais variadas ("Eu sei o que é melhor para meu filho" ou "Meu filho não vai precisar passar por tudo o que passei"), tentam controlar o presente e o futuro da prole como uma forma de resolver as próprias frustrações ou realizar seus sonhos.
Os exemplos são comuns: pais que querem escolher a carreira dos filhos, muitas vezes aquela que eles gostariam de ter seguido; tentativas de interferir no namoro baseadas em julgamentos sobre o tipo certo ou errado de homem ou de mulher; supervisão constante e exagerada sobre a
forma física dos filhos, que revela os próprios ideais de beleza e juventude.
Por trás dessas atitudes, esconde-se a dificuldade de lidar com questões mal resolvidas em suas próprias histórias. A falta de coragem e ousadia para tomar essa ou aquela atitude quando eram jovens se repete no presente, quando tentam se realizar pelos filhos em vez de se dar a chance de retomar a própria vida. Por não resolverem os próprios problemas, esses pais, mesmo sem sentir; muitas vezes, acabam criando ou alimentando sentimentos de insegurança ou baixa auto-estima nos filhos, entre outras dificuldades.
Um exemplo pode tornar isso mais claro. Imagine um pai ou uma mãe que tenta "influenciar" o filho adolescente a seguir determinada carreira. Nessa situação, é muito comum desqualificar a escolha do filho com frases como: "Isso não dá dinheiro", "O mercado está saturado desse tipo de profissional" ou "No futuro você vai me agradecer por não ter deixado você seguir essa bobagem". Esse tipo de comentário pode minar a confiança do adolescente na sua capacidade de julgamento, ainda mais nessa fase de tantas incertezas. O medo de não se dar bem em outra profissão que não a escolhida pelos pais e as ameaças veladas para a desobediência podem falar mais alto na hora da escolha e fazer com que acabe se ajustando a sonhos que não são seus.
É claro que todos nós fazemos planos e temos sonhos para nossos filhos. O importante é aceitar que nem todos vão se concretizar e talvez nem sejam, necessariamente, o melhor para eles. Um dos grandes desafios da relação entre pais e filhos é aprender a respeitar as diferenças.
Ajudar um filho a crescer e amadurecer também implica aceitar que ele tem seus próprios desejos, que podem diferir muito dos nossos. Essa atitude pode ser um grande aprendizado para o adulto, mas é mais importante ainda para a criança e o adolescente, que aprendem a confiar em si mesmos e a lidar com as dificuldades e as delícias de construir o próprio destino.
Enviado pela professora do curso de FORMAÇÃO EM OP do GRUPO ORIENTANDO,
Helenice Feijó de Carvalho.